MITOS E VERDADES SOBRE A VITAMINA D
A vitamina D está em evidência tanto pela sua importância na saúde óssea como também porque inúmeros artigos a colocam como milagrosa, curando o câncer ou aumentando a imunidade geral dos indivíduos.
Recentemente, na mídia, um cientista pós graduado afirmou que uma única dose altíssima de vitamina D seria capaz de evitar a infecção pelo coronavírus. Isso é perigoso, pois além de não estar embasado por estudos científicos bem desenhados, cria expectativa irreal na população leiga, que obviamente sempre prefere as curas milagrosas.
A vitamina D é considerada quase um hormônio, que age em vários receptores teciduais do nosso organismo. Ela, sabidamente é importante para os ossos, pois estimula a absorção do cálcio do nosso intestino e viabiliza a mineralização do osso.
Essa relação da vitamina D com a saúde esquelética está cientificamente estabelecida. Porém, mais recentemente há evidências que essa vitamina traga benefícios para doenças cardiovasculares, diabetes, infecções e doenças autoimunes.
A maior parte de vitamina D do nosso organismo é obtida quando a radiação solar UVB chega na pele e promove sua ativação.
É importante salientar que a radiação solar necessária para ativação da vitamina D é também aquela que queima a pele e causa câncer de pele. Essa radiação chamada luz ultravioleta B chega à superfície terrestre entre 11 e 14 horas do dia e penetra na pele lesando o DNA celular.
A partir da ativação da vitamina D pela luz UVB, ela passa por metabolização dentro do nosso organismo e se torna a vitamina D ativa que age nos receptores específicos.
Além da produção na pele, a vitamina D pode ser adquirida através da dieta ou por suplementação vitamínica.
A definição de deficiência de vitamina D, baseada nos níveis séricos de 25 (OH) D é motivo de controvérsia na literatura. Valores acima de 30 ng/ml são considerados como satisfatórios por todos os autores. Níveis inferiores a 20 ng/ml podem ser consensualmente considerados como deficiência de vitamina D. Valores intermediários entre 20 e 30 ng/ml são considerados como limítrofes.
Hoje, os níveis séricos de vitamina D parecem estar baixos em grande parte da população. É bom lembrar que a pigmentação da pele e a idade também afetam a produção de vitamina D. Indivíduos com fototipos altos podem ter sua produção de vitamina D alterada, já que a melanina absorve a radiação UV na epiderme, o que limita o número de fótons disponíveis para converter moléculas de 7-DHC em pré-vitamina D3. A diminuição de vitamina D nos idosos é bem conhecida.
Em geral, o uso de filtro solar para prevenir o aparecimento do câncer de pele poderia ser o culpado por esses níveis mais baixos na população em geral. Segundo estudo publicado por De Paula Correa e cols, avaliando o nível de radiação na cidade de São Paulo durante um período de 3 anos, a exposição não intencional ao ambiente externo pelo tempo de 10 minutos diários, somente das mãos e face, seria suficiente para a produção adequada de vitamina D em uma pessoa de Fototipo II. Os dados apresentados pelo estudo já consideram os dias nublados e chuvosos, portanto, somente 10 minutos de exposição ao ambiente externo, qualquer que seja o clima, somente de mãos e face, seriam suficientes para a produção de vitamina D na cidade de São Paulo.
O uso adequado de fotoprotetores reduz de forma significativa a quantidade de radiação UVB que atinge a superfície cutânea, podendo interferir teoricamente na produção de vitamina D. Entretanto, na prática, o protetor solar não é aplicado na quantidade adequada e com a frequência e regularidade recomendadas, permitindo que suficiente radiação UVB atinja a pele para a produção da vitamina D.
Assim, o uso de fotoprotetores, da forma como é habitualmente utilizado pelos usuários, não poderia ser considerado como um fator predisponente ao desenvolvimento de deficiência de vitamina D.
RECOMENDAÇÕES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA
A exposição ao Sol, de forma intencional e desprotegida, não deve ser considerada como fonte para a produção de vitamina D ou para a prevenção de sua deficiência.
Recomendar o uso de protetores solares com FPS superiores a 30 para todos os pacientes, acima de 6 meses, expostos ao sol. Orientar a não realizar exposição solar sem o uso adequado de protetores solares.
Orientar os pais de crianças abaixo de 6 meses a não expor diretamente ao sol e não fazer uso regular de fotoprotetores.
Pacientes considerados como sendo de risco para o desenvolvimento de deficiência de vitamina D devem ser monitorados através de exames periódicos e podem utilizar fontes dietéticas ou suplementação vitamínica para a prevenção de deficiência de vitamina D.
São considerados fatores de risco para a deficiência de vitamina D:
- Lactentes recebendo amamentação exclusiva.
- Idosos (pele envelhecida produz menos vitamina D).
- Indivíduos com baixa exposição ao Sol.
- Condições climáticas extremas.
- Uso rigoroso de medidas de fotoproteção.
- Cobertura da pele por práticas religiosas.
- Fototipos V e VI.
- Pacientes com síndrome de má absorção.
- Obesos mórbidos.
A dose diária recomendada de vitamina D para a prevenção de deficiência em indivíduos de risco é a seguinte:
- 0-12 meses: 400 UI/dia
- 1 a 70 anos: 600 UI/dia
- > 70 anos: 800 UI/dia
Por fim, a SBD entende que a política para a prevenção ao câncer de pele, através da fotoproteção consciente, é medida prioritária em termos de Saúde Pública para o Brasil, particularmente na área da Dermatologia.
A SBD continua a estimular a população a evitar a exposição ao sol sem a adequada proteção, especialmente no período de maior risco, entre 10 e 15 horas.
Dra. Denise Steiner
Dermatologista
CRM: 36.505 - RQE 6185
- Médica Dermatologista
- Médica formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP
- Residência no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - HCFMUSP (1980-1982)
- Especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia – SBD
- Doutora em Dermatologia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
- Especialista em Hansenologia
- Especialista em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP
- Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia – SBD