IMCAS 2020: Congresso mundial redefine conceitos de juventude e idade em Paris
A dermatologista Denise Steiner destaca o Tratamento do Melasma com ácido tranexâmico e Plasma Rico em Plaquetas e fala de um novo preenchedor mais duradouro e não alergênico
A 22a. edição do IMCAS (International Master Course on Aging Science), um dos congressos mais importantes do mundo sobre envelhecimento e procedimentos cosmiátricos, reuniu na capital francesa mais de 800 especialistas que participaram de 345 sessões científicas, em 3 dias de debates. O Palácio dos Congressos recebeu, de 30 de janeiro à 01 de fevereiro, alguns dos mais renomados especialistas nas áreas da dermatologia, cirurgia plástica e cirurgia estética. A Dermatologista Denise Steiner foi uma das representantes brasileiras no encontro e aponta agora os temas de maior destaque no Congresso:
Tratamento com ácido tranexâmico via oral para tratar o Melasma
No Imcas ficou claro que o melasma não é mais considerado uma simples mancha mas sim um desequilíbrio da pele onde estão envolvidas várias células tais como melanócito, fibroblastos, queratinócitos, mastócitos e adipócitos. O melasma é uma alteração inflamatória e a comunicação entre essas células está intensa e exacerbada. Dentre os estímulos que mais intensificam essa conversa entre as células estão as radiações UVA, UVB, luz visível e infravermelho. Outros estímulos como, estresse, irritações locais, desidratação da pele, poluição e medicações também são importantes e precisam ser equilibradas.
No Imcas foi destacado que o melasma precisa ser tratado com combinações de tratamentos, pois o tratamento com uma substância isolada não é eficaz. Medicações de uso oral foram realçadas, como o complexo com a enzima superóxido dismutase associada a gliadina, Polypodium leucatomos, picnogenol, glutationa, entre outros.
Mas a estrela para o tratamento do melasma foi o uso do ácido tranexâmico por via oral. O ácido tranexâmico é uma substância “off label” para o melasma, mas diferente de outros medicamentos por via oral que tem potencial antioxidante, ele age em vários mecanismos da troca celular relacionados a formação do pigmento melânico. O ácido tranexâmico age no processo inflamatório do melasma diminuindo a formação da melanina, assim como a vascularização e também a atuação da enzima tirosinase que é a mais importante na produção do pigmento.
Tratar o melasma não é somente clarear a pele, mas também evitar que os estímulos continuem acontecendo e para que ocorra a normalização da comunicação entre as células.
O ácido tranexâmico é usado na dose de 250mg, 2x ao dia por cerca de 4-6 meses.
Foi também enfatizado no Imcas que é necessário uma avaliação dos parâmetros sanguíneos que possam indicar tendência para a trombose. Devem ser pedidos além de hemograma e coagulograma também o fator 8 de Leyden que predispõe a problemas vasculares. O paciente precisa ser avaliado pelo médico que pedirá os exames necessários e avaliará a viabilidade desse tratamento.
A Dra Denise Steiner vem estudando o ácido tranexâmico há vários anos e além de grande experiência com o uso dessa substância também tem trabalhos publicados que enfatizam a eficácia e segurança desse medicamento.Ela coordenou um estudo pioneiro do Departamento de Dermatologia da Universidade de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, que realizou um protocolo que comparou o uso do ácido tranexâmico com placebo.
O ácido tranexâmico via oral pode ser associado a tratamentos como laser, microagulhamento e peelings. Os resultados positivos com essa medicação começam aparecer após um mês de tratamento e sua utilização também é interessante para manutenção dos resultados.
O melasma é caracterizado por manchas castanho-escuras que ocorrem principalmente na face de mulheres morenas e jovens. As mulheres têm mais melasma comparado com homens, devido a fatores hormonais, pois hoje se sabe que a pele manchada tem mais receptores para o estradiol (estrogênio) do que aquela sem mancha. Quanto à grávida, além desse fator, também há aumento da produção do hormônio melanócito estimulante.
PRP - Plasma Rico em Plaquetas -
A técnica conhecida como PRP - Plasma Rico em Plaquetas - foi uma das mais discutidas no Congresso. Trata-se de um procedimento onde o sangue do paciente é colhido, centrifugado e a parte rica em plaquetas é aplicada na área a ser tratada. Há uma série de fatores de crescimento que são liberados e isso faz com que se consiga inibir alguns estímulos e aumentar outros. Há indicação para tratar várias doenças de pele, especialmente o Melasma e também a calvície e o envelhecimento.
Os tratamentos dermatológicos com uso do PRP funcionam da seguinte maneira: o líquido das plaquetas é injetado, por meio de seringas, diretamente na pele, seja através de técnicas de micro-agulhamento, seja por micro-infusão de medicamentos. A Dra. Denise Steiner é uma das maiores especialistas no uso do PRP na dermatologia. Ela coordenou um grupo de trabalho também do Departamento de Dermatologia da Universidade de Mogi das Cruzes, sobre o uso do Plasma Rico em Plaquetas.
No estudo, 20 pacientes foram submetidos a 3 aplicações de PRP num intervalo de um mês e os resultados foram bem satisfatórios e com pouquíssimos efeitos colaterais.
Preenchedor de Ácido Hialurônico não reticulado
Essa é uma das novidades mais importantes apresentadas no Congresso e que ainda não chegou ao Brasil. Até hoje era usado o preenchedor de ácido hialurônico reticulado, que faz uma alteração química, com o uso de uma substância que faz grudar as moléculas e impedir que elas sejam atacadas rapidamente por enzimas dentro do organismo.
O ácido hialurônico é um produto natural no nosso corpo e no processo orgânico é sempre digerido pelas enzimas naturais. Para que dure mais é feita a reticulação química. O problema é que esse produto pode ser alergênico e causar efeitos colaterais no paciente. Já o novo ácido vem sem a reticulação química e usando o calor, isso torna o processo mais duradouro e livre da substância alergênica. Um dos pontos importantes a se destacar é o custo/benefício. o Produto é seguro, durável, natural e com poucos efeitos colaterais.
Acne e alimentação
Durante o Congresso em Paris falou-se bastante da influência do leite e seus derivados e de alimentos com altos índices glicêmicos nos processos inflamatórios. Estudos recentes mostraram que derivados do leite estimulam hormônios masculinos que favorecem a inflamação e o aumento da acne. Os altos índices glicêmicos são inflamatórios e fazem uma glicação, que é o endurecimento do colágeno, que piora a qualidade da pele. Nesse contexto, o dermatologista acaba atuando como nutrólogo, na orientação em relação às doenças inflamatórias.
A acne vulgar é condição inflamatória crônica do folículo pilo-sebáceo, particularmente comum em adolescentes e adultos jovens. Entre os adolescentes a frequência, a severidade da acne, bem como a tendência a cicatrizes são maiores entre os homens. Já a acne do adulto é mais frequente entre mulheres. Apesar de, virtualmente, não haver mortalidade associada a esta doença existe uma significante morbidade física e psicológica.
A pele da pessoa com acne reage muito facilmente à irritação, ou danos da barreira cutânea, desencadeando o restante da cascata inflamatória, passando pelo excesso da produção sebácea e hiper-queratinização e ação excessiva das bactérias.
Um outro ponto abordado no combate a Acne foi o uso de nutracêuticos que são anti-oxidantes e tratam os processos inflamatórios.
Tratamento da celulite
Uma outra apresentação interessante do Congresso teve como tema o aumento de volume na região das nádegas e melhoria do aspecto da celulite e das irregularidades cutânea com a aplicação de uma substância chamada policaprolactona, um preenchedor estimulador. Essa substância é especial porque estimula o colágeno e também preenche. O custo/benefício para fazer esse tipo de abordagem, nessa região do corpo, é interessante porque também é duradouro. A substância tem uma característica em que, conforme o tamanho da molécula, é possível definir uma duração maior ou menor do tratamento. Então, é possível usar o produto para durar 1, 2 ou 4 anos. É uma substância que já existe no Brasil e a abordagem é feita com uso do ácido polilático e a hidroxiapatita de cálcio. O procedimento é indicado para promover um volume na nádega e fazer um desenho especial, mas quando a região tem uma irregularidades causadas pela celulite, indiretamente, se obtém uma melhora porque o produto se mistura a essa região irregular e a própria aplicação com a cânula faz com que se rompa alguns septos e a substância seja distribuída e haja mais homogeneidade na superfície cutânea.
Dra. Denise Steiner
Dermatologista
CRM: 36.505 - RQE 6185
- Médica Dermatologista
- Médica formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP
- Residência no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - HCFMUSP (1980-1982)
- Especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia – SBD
- Doutora em Dermatologia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
- Especialista em Hansenologia
- Especialista em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP
- Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia – SBD