Acne e Ciclo Menstrual

Publicado por link9 em

A acne, é uma doença do folículo pilossebáceo, inflamatória, crônica cuja etiopatogênese envolve: genética, hormônios androgênicos, excesso de produção sebácea, hiperqueratinização do folículo, aumento do crescimento bacteriano e inflamação.

A acne compromete dois grupos distintos:

  1. Adolescentes com lesões polimorfas em todo rosto e também costas e peito com variação da gravidade e com influência importante do histórico familiar (genética).
  2. Mulheres adultas com mais de 25 anos com lesões localizadas predominantemente no queixo e pescoço, doloridas e inflamadas. Estas mulheres, em geral, nunca apresentaram acne quando adolescentes.

Nos dois grupos, tanto nas adolescentes como nas mulheres adultas, é frequente a queixa de piora do quadro no período pré-menstrual.

A discussão sobre o comportamento clínico da acne durante o ciclo pré menstrual gira em torno de vários fatores e mecanismos tais como: produção de sebo, obstrução do óstio folicular, variação cíclica dos estrógenos e andrógenos, barreira cutânea, reatividade da pele e idade da paciente em questão.

A relação entre a variação da produção do sebo durante o ciclo menstrual é evidenciada em alguns trabalhos. Esta oscilação pode estar relacionada aos níveis de estradiol no início do ciclo e da progesterona no final do mesmo. A progesterona quando metabolizada produz andrógenos que estimulam receptores específicos, produzindo mais sebo e mudando a característica do mesmo.

O aumento da produção sebácea também modifica o microbioma da pele, gerando alterações da imunidade inata com produção de citoquinas inflamatórias e formação de lesões papulosas e inflamadas. A abertura do óstio folicular sofre variações no decorrer do ciclo menstrual e sua oclusão na segunda fase do ciclo e favorece a piora das lesões inflamatórias da acne.

Um protocolo muito interessante observou que a reatividade da pele ao teste de contato realizado em 29 mulheres com ciclo menstrual normal foi mais intensa durante a fase lútea. Neste estudo se observou que a pele quando testada com “ lauril sulfato”  teve maior inflamação no dia 01 quando comparada nos dias  09 - 11 do ciclo. Podemos imaginar, através desses estudos que a reatividade da pele sofre modificações durante o ciclo menstrual com maior sensibilidade na fase final do mesmo.

O tratamento da acne começa com um histórico completo, identificação se estão no grupo de adolescentes ou de acne de mulheres adultas e intensidade da mesma. Em geral o tratamento para a acne leve é feito com a combinação de retinóides e antibióticos tópicos.

Na acne da mulher adulta em especial naquela que ocorre piora do quadro na pré-menstruação utilizamos anticoncepcionais específicos, antibióticos e anti andrógenos sistêmicos.

No caso do uso de pílulas anticoncepcionais temos os melhores resultados com a combinação de etinilestradiol e progestágenos antiadrogenicos. Isso ocorre porque os hormônios androgênicos aumentam a produção sebácea e pioram a inflamação.

Drosperinona é um progestágeno sintético análogo a espironolactona com ação anti androgênica e sem ação estrogênica ou glicocorticoidogenica. Podemos afirmar que 3 mg da drosperinona equivale a 25mg de espironolactona. A dose de drosperinona usada nas pílulas anticoncepcionais é bem tolerada com poucos efeitos colaterais. É importante estar atento aos níveis de potássio pois pode haver casos de hiperpotassemia.

Em casos de acne da mulher adulta resistente ao tratamento podemos utilizar antiandrogenicos sistêmicos como espironolactona na dose de 100mg/dia ou eventualmente dutasterida que é inibidor do 5-αredutase na dose de 0,5 mg/dia. Ainda no caso da associação do quadro da acne com o ovário policístico também usamos essa combinação de anticoncepcional associado as mesmas drogas anti androgenicas. Em geral, esse tratamento também melhora a alopecia androgenética e/ou hirsutismo que podem estar associados ao quadro da acne. Lembrar que tanto espironolactona como a dutasterida são medicações “off label” para o tratamento da acne da mulher adulta.

A isotretinoína sistêmica na dosagem de 0,5 a 1 mg/kg/dia também pode ser uma opção terapêutica e nesse caso é importante enfatizar que a contracepção é obrigatória devido aos efeitos teratogênicos da mesma.

A barreira cutânea é muito importante para a melhora da acne⁷.Durante o ciclo menstrual há mudanças na hidratação e sensibilidade da pele e num estudo controlado houve melhora com uso de dermocosméticos específicos. No tratamento da acne da mulher adulta são necessários cuidados diários como limpeza, hidratação e proteção. A limpeza deve ser feita com sabonete suave e levemente adstringente 2 vezes ao dia, a hidratação preconiza produtos não comedogênicos 1 vez ao dia e o filtro solar deve ser específico para pele oleosa.

O estresse também piora a acne por estímulos hormonais e inflamatórias e, portanto, o tratamento da acne também inclui o relaxamento e bem-estar do paciente.

Finalizando, no tratamento da acne devemos levar em conta as características do ciclo menstrual de cada mulher, assim como todas as suas especificidades individuais.

 

Dra. Denise Steiner – CRM 36.505
Médica formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Residência no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo
Doutora em Dermatologia pela UNICAMP
Conselheira da Sociedade Brasileira de Dermatologia
Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Regional São Paulo 2005
Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Biênio – 2013/2014
Coordenadora Científica da Sociedade Brasileira de Dermatologia - 2015/2016
Coordenadora da Educação Médica Continuada da Sociedade Brasileira de Dermatologia - 2015/2016
Professora Titular da disciplina Dermatologia da Universidade de Mogi das Cruzes
Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia - SBD
Membro da Academia Americana de Dermatologia – AAD
Membro da Academia Europeia de Dermatologia e Venerologia - EADV
Coordenadora do Capítulo de Cosmética do Colégio Cosmética do Colégio Ibero Latino – CILAD

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