Finasterida: Mitos e Verdades

A relação entre calvície e testosterona foi observada por Hipócrates, que noticiou que os jovens homens eunucos não apresentavam queda de cabelos.

Durante séculos, muitas teorias e mitos circularam sobre a afecção. No final do século XX surgiu a finasterida, alternativa que veio resolucionar a forma de encarar o problema.

A finasterida é um composto 4-azasteroide sintético, derivado do 3-oxo-5-alfa-esteroide, um inibidor específico da enzima 5-alfa-redutase II. Sob a ação da enzima 5-alfa-redutase, a testosterona, hormônio masculino, transforma-se em didrotestosterona (DHT), hormônio responsável pelo afinamento dos cabelos e diminuição progressiva dos folículos, que tem seu ciclo de vida normal encurtado. O resultado final é a calvície. A finasterida não tem ação hormonal propriamente dita, mas diminui significantemente os níveis de DHT no folículo piloso e na corrente circulatória.

A finasterida é uma opção para homens com alopecia androgenética, isoladamente, ou em associação com minoxidil tópico. Reduz a queda, e/ou restaura o crescimento em 9 de 10 pacientes. Pode ser tomada em qualquer hora do dia, com ou sem alimentos. Não existem relatos significativos de interações medicamentosas ou alergias.

A medicação é absorvida pelo trato gastrointestinal, metabolizada pelo fígado e excretada pela urina e fezes, apresentando meia-vida de cinco a seis horas. Deve ser usada com cautela nos pacientes que apresentam anormalidades hepáticas. No entanto, interações medicamentosas de importância clínica não foram observadas.

Em homens com 60 anos ou mais a finasterida não tem efeito porque a enzima 5-alfa-redutase não é tão ativa como no jovem.

A finasterida é contraindicada para mulheres na idade fértil, a não ser que estejam utilizando métodos anticoncepcionais de forma estrita. Isso porque, se a mulher engravidar, a droga pode causar feminilização nos fetos do sexo masculino. No entanto, os homens podem continuar usando a medicação, mesmo que suas esposas engravidem. Além do risco de defeitos no feto, muitos estudos não conseguiram comprovar a efetividade da finasterida no tratamento da alopecia androgenética feminina.

Alguns estudos isolados reportaram a ocorrência de depressão em pacientes usando finasterida. Esse efeito colateral ainda necessita ser mais investigado, mas deve ser considerado em pacientes com história de depressão severa.

A finasterida também se mostrou útil na fixação dos cabelos transplantados. Um estudo randomizado, tratados com finasterida 1 mg/dia ou placebo, por quatro semanas antes e 48 semanas após o transplante capilar, mostrou que o grupo tratado obteve melhora significante em comparação com o grupo que recebeu placebo.

Os principais efeitos colaterais da medicação foram descritos em homens: diminuição da libido, disfunção erétil, diminuição do volume da ejaculação, disfunção da ejaculação, reação de hipersensibilidade, ginecomastia, miopatia grave, pancreatite aguda.

Testes realizados têm indicado que os efeitos colaterais sexuais possuem muito mais uma causa psicológica, do que uma causa farmacológica.
Relatos na imprensa, sites da internet e desinformação por praticantes da medicina alternativa contribuíram recentemente para uma imagem negativa associada à finasterida, levando à apreensão e preocupação por parte dos pacientes que fazem uso da medicação. Muitas vezes, até mesmo os dermatologistas parecem hesitar em prescrever a droga por longos períodos, temendo erroneamente a ocorrência de efeitos colaterais persistentes.

Os andrógenos, principalmente a testosterona, aumentam a libido. Qualquer droga que interfira na ação dos andrógenos é, portanto, associada pelo leigo à impotência sexual. No entanto, o papel preciso dos andrógenos na ereção peniana ainda precisa ser completamente elucidado. Mesmo um indivíduo com baixos níveis de testosterona pode conseguir a ereção.

Além dos andrógenos, influência visual, olfativa, tátil, auditiva e estímulos criativos afetam diretamente a libido. A ereção peniana está principalmente sob o controle do sistema nervoso parassimpático.

Efeitos colaterais relacionados à função sexual

Uma série de estudos tem analisado os efeitos colaterais causados pela finasterida. Estes estudos revelaram que os efeitos adversos sexuais ocorrem em cerca de 2,1% a 3,8% dos casos, sendo a disfunção erétil a reação adversa mais frequente, acompanhada de disfunção ejaculatória e perda da libido. Foi observado que estes efeitos ocorreram no início da terapêutica e regrediram com a suspensão ou após longo tempo de uso contínuo da droga. A única relação causal objetiva entre a finasterida e os efeitos adversos sexuais, foi a diminuição do volume ejaculatório devido a ação predominante da DHT na próstata.

Em vista dos dados conflitantes e da contínua importância do assunto, a Sociedade Internacional de Cirurgia de Restauração Capilar (ISHRS) criou um grupo de estudos sobre as controvérsias e efeitos adversos da finasterida, a fim de avaliar os dados publicados e fazer recomendações. O grupo publicou sua atualização inicial sobre o assunto da seguinte forma:

“Até o momento, não existem dados a partir dos inúmeros estudos duplo-cegos placebo controlados com o uso da finasterida 1mg/dia para tratamento da alopécia androgenética, que evidenciem a ligação entre a droga e efeitos colaterais sexuais persistentes. Os relatos desses efeitos vem de uma variedade de fontes inconsistentes, como alguns sites da internet que atraem indivíduos que afirmam ter problemas sexuais e psicológicos relacionados com a medicação. Enquanto as dificuldades de ereção após a interrupção da finasterida continuarem sendo relatadas em zonas de vigilância pós-comercialização, a incidência do problema permanecerá desconhecida.

A persistência dos efeitos colaterais sexuais parece ser um evento raro e é necessário determinar se os recentes relatos representam uma verdadeira relação causal ou são simplesmente uma coincidência, por exemplo, relacionados a outros fatores como a alta incidência de disfunção sexual na população em geral e/ou efeito nocebo. Além disso, existem poucos dados disponíveis sobre o status médico e psicológico destes pacientes para excluir outros potenciais fatores causais.

No presente momento, o mecanismo de interação entre o cérebro, o metabolismo da 5α-redutase e os hormônios sobre a disfunção sexual é especulativo e mal compreendido. Claramente, esta é uma questão complexa, que sobrepõe-se a outras áreas médicas, como endocrinologia, urologia e psiquiatria. Mais pesquisas são necessárias para avaliar a real incidência desses efeitos colaterais, para determinar se existe verdadeira relação causal e identificar os pacientes de risco.

Milhões de pacientes se beneficiaram e se beneficiam do uso da finasterida, sem efeitos colaterais ou com efeitos colaterais mínimos e reversíveis. É de extrema importância para a comunidade médica, analisar criteriosamente os relatos disponíveis e realizar mais estudos para que informações precisas possam ser dadas aos pacientes e para que os mesmos possam fazer escolhas informadas sobre o uso do medicamento”.

Assim sendo, as evidências disponíveis sobre a segurança do fármaco podem ser consideradas questionáveis, mas não podem, certamente, ser ignoradas. O assunto ainda precisa de mais investigação e documentação sistemática.

Não há dúvidas de que para o leigo, a perspectiva de impotência sexual ao tomar um medicamento para queda de cabelo é assustadora, muito embora, teoricamente, esse risco seja mínimo. As bulas da droga mencionam a possibilidade desse efeito secundário e o paciente é frequentemente incapaz de distinguir a real contingência do risco.

Vários sites dão uma opinião bastante desfavorável sobre os efeitos colaterais da finasterida, ao contrário das evidências científicas disponíveis. Qualquer paciente que lê tais comentários fica compreensivelmente apreensivo, e, portanto, tende a interromper o tratamento, ou, até mesmo, não iniciá-lo.

Em vista de tudo isso, é de extrema importância aconselhar e informar adequadamente o paciente para assim, garantir a aderência ao tratamento e a efetividade da resposta terapêutica.

Em particular, os seguintes pontos precisam ser abordados e ressaltados:

1. A droga é provavelmente a melhor para o tratamento da alopécia androgenética e a única aprovada pelos órgãos reguladores com capacidade de atuar na raíz do problema.
2. Seus efeitos são comprovados cientificamente.
3. Vários estudos têm demonstrado sua segurança na administração por longos períodos. A dosagem indicada (1mg) é considerada baixa e a probabilidade de causar efeitos secundários é mínima. Mesmo nos casos em que reações adversas foram relatadas, as alterações reverteram-se após suspensão do uso.
4. Existem muito poucas alternativas eficazes ao fármaco, e, por conseguinte, é importante que o paciente não interrompa o tratamento, a menos que apresente quaisquer efeitos colaterais.
5. O paciente deve entrar em contato com o médico mediante dúvidas, informando-o sobre qualquer efeito colateral apresentado.
6. O uso da droga é totalmente voluntário, como a calvície masculina é apenas uma condição estética, cabe ao paciente decidir se quer ou não tomar a medicação.
7. O médico deve fornecer informações completas sobre a droga, permitindo assim que o paciente tome uma decisão informada.
8. É prudente evitar a indicação para pacientes com história prévia de oligospermia e/ou infertilidade, especialmente se forem recém-casados e estiverem objetivando construir uma família.

Além disso, nos pacientes apreensivos em relação aos efeitos colaterais, vale a pena considerar a administração de doses diárias menores ou doses escalonadas da droga, para assim melhorar a adesão ao tratamento.

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